sábado, 24 de agosto de 2013

A PORTA ESTREITA

Jesus, seguindo no caminho para Jerusalém, ouve uma pergunta de um dos seus seguidores: "Senhor, é verdade que são poucos que se salvam?" Lucas nos lembra que Jesus ainda está fazendo a viagem para Jerusalém conforme o Plano de Deus. A pregação de Jesus a respeito do Reino e da salvação de Deus, gerou nos seus ouvintes uma série de questionamentos, como este que o evangelho nos apresenta.
         A pergunta tem um conteúdo quantitativo: o número dos que se salvam. A resposta de Jesus não entra na dinâmica da quantidade, propõe o critério para entrar na salvação: a PORTA ESTREITA, é o critério QUALITATIVO.
         Em Jerusalém - uma cidade cercada por um muro - as portas de acesso eram estreitas, pois isso permitia um controle das mercadorias que passavam favorecendo a cobrança dos tributos. Não havia nada de urbanismo nas antigas cidades da Palestina.
         A porta tornou-se sinônimo de lugar público; era lugar de discussão, decisão, diálogo, tanto quanto as praças de uma cidade; a porta é lugar de passagem, de entrada e saída, de acesso. A utilidade da porta era de fácil compreensão para os ouvintes de Jesus.
         Jesus falando da PORTA ESTREITA convida os discípulos a um discernimento atento sobre suas vidas à luz das relações com o Senhor (tal como a parábola). Essa passagem do Evangelho contém diversas referências à seriedade da proclamação do Reino de Deus  e a necessidade de uma decisão sóbria para empreender a viagem a Jerusalém com Jesus, viagem que terminará em sofrimento e morte.
         A pergunta "Senhor, é verdade que são poucos que se salvam?" durante a viagem, oferece-lhe a oportunidade de mencionar mais de uma vez as dificuldades envolvidas em seu seguimento.
         O Senhor especifica o critério para se salvar e fala dos que se iludem estar seguindo-O, mas apenas mantém um vago relacionamento com Ele. Comiam e bebiam com Ele; ouviam Seu ensinamento, mas não o aceitavam como Palavra de Deus para ser posta em prática.
         Jesus ao apresentar a PORTA ESTREITA nega a salvação ligada a um fator étnico ou com privilégio religioso. Com Jesus não é possível pensar em exclusivismo.
         Em que consiste a tal PORTA ESTREITA? É claramente a vida de COMUNHÃO com Deus; é caminhar com o Senhor; é viver um relacionamento de amizade íntima com Cristo; enfim, a PORTA ESTREITA É ACEITAR A LÓGICA DA CRUZ.
         Ela nos leva a um profundo discernimento para compreender como estamos modelando nossa existência no percurso da única vida que temos aqui na terra, tanto como indivíduos e como comunidade cristã. 
         Há uma responsabilidade individual, mas também comunitária. Há um AJUSTAR-SE, ou seja viver a JUSTIÇA DE DEUS. Quando o ser humano quer uma AUTO-SALVAÇÃO tenta fazer uma ALARGAMENTO DA PORTA, um moldar a PORTA à sua situação de vida, ou seja querer mudar a Lei de Deus ou até mesmo criar um Deus para si próprio.
         Passar na PORTA ESTREITA acarreta a necessidade de uma CONVERSÃO enquanto pessoas e um CONVERSÃO PASTORAL de nossas paróquias (de nossa paróquia). Está no nosso ser (no DNA) o aspecto missionário, onde exaltamos uma pastoral repleta de Primeiro Anúncio, colocando no centro a CRUZ e a RESSURREIÇÃO como fonte de salvação para todos.
         O conjunto dos textos da liturgia de hoje nos relembra na 1ª leitura a CERTEZA DO CUMPRIMENTO DA PROMESSA DE DEUS (uma salvação para todos) e na 2ª leitura A NECESSIDADE DO NOSSO ESFORÇO.
         A vivência da nossa fé, do nosso ser cristão não está reduzida às práticas de oração e boas obras: não é cumprimento de LEIS ou REGRAS vazias: "Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós, que praticais a injustiça!’", diz o Senhor.
         A nossa fé não é medida pelo número de terços rezados, pelo tempo que rezamos, pelo número de missas... mas, se tudo que rezamos e praticamos é fruto do amor de Deus  e se transformou em caridade. Enfim, o amor testemunhado por Cristo é o  que nos move a essas práticas.
         Na vida paroquial podemos viver uma fé assim: rezamos, nos confessamos, comungamos, ajudamos quando nos pedem... tudo muito bom! Porém, não nos  envolvemos com o aspecto missionário da comunidade: visita aos doentes, catequese, coroinhas, pastoral com jovens, caridade fraterna, ação social, estudo bíblico, adoração, dízimo... Ou ainda temos que ouvir de alguns: a Igreja deveria fazer "isso ou aquilo"; o "padre deveria... poderia". Por que não fazem "isso ou aquilo"? Paremos um pouco! Está na mais que na hora de pormos em prática o ser batizado assumir um papel evangelizador como comunidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário